domingo, 5 de agosto de 2012

Espirrar Faz Bem

A maioria dos especialistas vê as alergias como reações imunes equivocadas contra substâncias inócuas como pólen ou amendoim. Alguns, no entanto, propõem uma teoria de alergias fundamentalmente diferente: nariz irritado, tosse e coceira podem ter evoluído para nos proteger de produtos químicos tóxicos, como veneno de cobra, presentes no ambiente e em alimentos.
Há muito tempo imunologistas acreditam que quem tem alergia é vítima de uma resposta tipo 2 equivocada, que se acredita ter evoluído para nos proteger de parasitas. Essa reação fortalece as barreiras protetoras do corpo e promove a expulsão de invasores. Nosso corpo luta também contra substâncias nocivas usando a resposta tipo 1, que elimina diretamente patógenos como vírus, bactérias e células infectadas. A ideia é que patógenos menores podem ser mortos, mas é mais eficiente enfrentar os maiores defensivamente. Ruslan Medzhitov, imunobiólogo da Yale University, nunca aceitou a ideia de que as alergias são “soldados anônimos do exército antiparasita do corpo”. Os parasitas e as substâncias que provocam alergias, chamadas alergênicas, “não têm nada em comum”. Primeiro porque existe um número quase ilimitado de alergênicos; segundo porque reações alérgicas podem ser extremamente rápidas – da ordem de segundos – e “uma resposta a parasitas pode demorar um pouco mais”, justifica o pesquisador. Em um artigo publicado em abril na Nature [Scientific American é parte do Nature Publishing Group], Medzhitov e seus colegas argumentam que as alergias não são um erro, elas surgiram por uma razão: “Como nos defender de algo que inalamos por acaso? Produzindo muco, ficando com o nariz escorrendo, espirrando e tossindo. Se estiver em nossa pele, evitamos a substância devido à irritação ou tentamos remover ao coçar”, reforça o pesquisador. Da mesma maneira, se ingerimos algo alergênico nosso corpo pode reagir com vômitos. Entre as evidências citadas por Medzhitov está um estudo de 2006, publicado na Science, relatando que células-chave envolvidas em respostas alérgicas se degradam e desintoxicam veneno de cobra e de abelha. Um estudo de 2010, publicado no Journal of Clinical Investigation, sugere que respostas alérgicas à saliva de carrapatos impedem que eles se fixem no corpo e se alimentem. Como isso concorda com o conhecimento atual sobre alergias? Um estudo de 2011, publicado no New England Journal of Medicine, relata que crianças que crescem em fazendas, expostas a muitos microrganismos, apresentam menor tendência a desenvolver asma e alergias. Essa ideia, conhecida como “hipótese da higiene”, sugere que quem convive com bactérias e vírus no início da vida investe mais recursos imunes em respostas tipo 1. Medzhitov sustenta que essa hipótese pode coexistir com a dele. Por fim, a teoria de Medzhitov levanta mais perguntas que respostas, mas muitos concordam que suas suspeitas são plausíveis: “Isso nos estimula a desenvolver algumas hipóteses novas”, ressalta Kari Nadeau, imunologista da Escola de Medicina da Stanford University.

A partir do próximo ano, o país produzirá a vacina que previne a catapora

O calendário básico de imunizações do SUS (Sistema Único de Saúde) passará a contar a partir de 2013 com a vacina tetra viral que inclui a imunização contra a varicela, mais conhecida como catapora, além de sarampo, caxumba e rubéola, já contempladas na tríplice viral ofertada gratuitamente pelo SUS desde 1992.
Hoje o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, assinou na Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), no Rio de Janeiro, um acordo para a produção da vacina varicela entre o laboratório público Biomanguinhos e o laboratório privado GlaxoSmithKline (GSK), que vai transferir gradualmente para o Brasil a tecnologia e a fórmula do princípio ativo da vacina. “Com apenas uma picada o Brasil vai poder proteger suas crianças contra quatro tipos de doenças. Hoje, temos dados que mostram que quase 11 mil pessoas são internadas por ano pela varicela e temos mais de 160 óbitos. Além disso, tem uma economia no trabalho dos profissionais de saúde, pois usa-se apenas uma agulha, uma seringa, um único local de conservação”, declarou o ministro. Ainda segundo Padilha, as internações causadas pela varicela custam cerca de R$ 7 milhões para o SUS (Sistema Único de Saúde). O ministério vai investir R$ 127 milhões para a compra de 4,5 milhões de doses por ano até 2015, quando está prevista a transferência completa de tecnologia para o Brasil, com produção da tetra viral 100% nacional. “Ao produzir novas vacinas aqui no país, a gente fica imune a qualquer oscilação do valor dólar ou de qualquer crise econômica internacional, a situações em que indústrias fora do Brasil decidem parar de produzir determinado medicamento ou vacina em função de decisões estratégicas dos interesses de seus países”. Esta é a sétima parceria entre a Fiocruz e o laboratório GSK e estão em vigor 36 parcerias que envolvem 37 laboratórios – 11 públicos e 26 privados, nacionais e estrangeiros. Segundo o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, além de capacitar os profissionais e criar plataformas para o desenvolvimento de outras vacinas, esse tipo de acordo barateia significativamente o preço das doses. “O preço global da vacina tetra custará R$ 28 por unidade, incluindo o preço da tríplice. No mercado privado, essa vacina custa R$ 150. Só podemos ter um programa que distribui gratuitamente vacinas para todo o país, porque temos a competência nacional de produzi-las”. A tetra viral é dada em duas doses: para crianças de até 12 meses e a segunda aos 4 anos de idade. Hoje a vacina só é oferecida na rede pública em épocas de surto. Com a tetra viral, o SUS passa a contar com 25 vacinas, sendo 13 ofertadas no calendário básico de imunizações.